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Em formato de prédicas morais, esta obra – que pode ser considerada uma das pioneiras, na Era Moderna, entre as definidas hoje como de auto-ajuda – emerge em meio à efervescência criativa que caracterizou os meados do século 18, num contexto de ascensão da corrente filosófica moralista e aforismática na Inglaterra e na França.
De autoria controversa, o livro foi escrito supostamente por Philip Dormer Stanhope, Conde de Chesterfield (1694-1773), Robert Dodsley (1704-1764) e John Hill (1716-1775). A introdução à edição original, aqui reproduzida, porém, o atribui a um sábio brâmane, cogitando ainda que poderia ser a obra de Confúcio – era recurso comum na época imputar a autoria de textos de caráter filosófico a exóticos pensadores orientais, cujo olhar distante virtualmente contribuiria para iluminar o cenário europeu.
A originalidade do livro repousa, no entanto, em sua abrangência e, ainda, no formato não sistemático a que recorre para sustentar o cânon moral da comunidade ilustrada daquele período. Tais cânones são transmitidos por meio de aforismos, que pretendem nortear o comportamento humano nas várias esferas da vida cotidiana, como família e trabalho, e diante de questões morais e universais, como espiritualidade, amor e morte.
A prudência, por exemplo, é evocada: “Não te permitas recreações dispendiosas para que a dor de adquiri-las não exceda o prazer que tens em desfrutá-las”.
Em outro trecho, o livro busca esclarecer a essência do medo:
“Não apavores tua mente com temores vãos, nem permitas que teu coração sucumba aos fantasmas da tua imaginação”.
Quanto às almas atormentadas pelas próprias contradições, conforta: “O sol não endurece a argila? Ele também não amolece a cera? Da mesma maneira como um único sol opera em ambos os casos, assim também uma única alma inclina-se a contrários. |